Paulo Roberto Bassoli, o Profissional que mudou a Educação Física Nacional

Paulo Roberto Bassoli formou-se em Educação Física pela UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, em 1976. Enquanto estudava, destacou-se como atleta e foi o primeiro a conseguir um título nacional pela Federação Mineira de Ginástica em 1975/76.

Em 1977, voltou para Juiz de Fora, sua cidade natal, ingressando na docência do ensino superior no curso de Educação Física e Desportos da UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora. Como professor, era respeitado e admirado pelos alunos, que tiveram o privilégio da sua convivência e do seu conhecimento durante os 26 anos que se dedicou à Faculdade de Educação Física e Desportos.

Profissional atuante, ele deixou sua marca também na administração da UFJF, desempenhando cargos de representação política e acadêmica. Destacou-se na chefia do Departamento de Desportos, na Gerência de Educação Física e Lazer da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Extensão, na Presidência da APES – Associação dos Professores de Ensino Superior, na Presidência da FADEPE – Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão e na direção da Faculdade de Educação Física e Desportos.

Em 1980, concluiu sua especialização na UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, em “Treinamento Atlético Desportivo”. Seguiu para o Rio de Janeiro para realizar o seu mestrado, também na UFRJ, na área de Bases Biomédicas da Educação Física, tendo sua dissertação defendida no início de 1989 sob o título de “O idealismo e o materialismo na Educação Física”.

Durante a realização do Congresso do Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior (ANDES-SN), foi formada uma chapa para concorrer às eleições da APES – Associação dos Professores de Ensino Superior, e Bassoli se tornou o presidente desta entidade no período de 1988 a 1990. Continuando sua ação no movimento docente, foi eleito diretor da Regional Leste da ANDES-SN de 1990 a 1992. Em 1998, fundou o CONDIESEF – Conselho dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior em Educação Física.

Na primeira convenção do CONDIESEF, realizada em Belo Horizonte, Bassoli, juntamente com mais dois professores, foi indicado para compor a primeira chapa para a Plenária do CONFEF. Nesta ocasião (1998), foi eleito Conselheiro Federal e posteriormente reeleito para o período de 2000-2004.

Segundo Jorge Steinhilber, atual presidente do CONFEF, sua atuação foi decisiva na hora da criação do Conselho. “Ele foi a pessoa que produziu o equilíbrio necessário à formação do Conselho, percebendo e trabalhando as diferenças regionais, além de ter conseguido agregar as pessoas, porque estava na direção do CONDIESEF, que era a única instituição de professores de Educação Física atuante no país”, explica Steinhilber.

Bassoli também ajudou a articular a criação do CREF6/MG, que inicialmente englobava os estados de Tocantins, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. Aos poucos, esses Estados foram expandindo-se e o CREF6/MG passou a responder apenas por Minas Gerais.

A partir de 2000, quando a primeira diretoria do CREF6/MG tomou posse, muitas conquistas começaram a ser alcançadas. E Bassoli se empenhou em cada uma delas: a criação do Código de Ética Profissional; a mudança do 3º parágrafo, do Artigo 26, da Lei nº 9394/96, que reforça a obrigatoriedade da presença da Educação Física nas escolas; a redação da Carta Brasileira de Educação Física e do Documento de Intervenção Profissional.

Depoimentos

A experiência que Bassoli trouxe da vida acadêmica e do CONDIESEF foi fundamental na hora das primeiras providências da criação do CONFEF. Era o momento em que estávamos aprendendo a ser conselheiros. Ele estava atento às questões legais e também ajudou bastante na constituição do Estatuto do Conselho... Não era muito de festas. Transitava bem em todos os grupos sem eleger prediletos. (Ricardo Catunda)

Bassoli sempre teve um grande comprometimento com a profissão. Nesses 5 anos de convivência, isso ficou transparente nas atitudes dele. A sua seriedade e convicção ideológica eram tão fortes e bem fundamentadas que eu presenciei mudanças de posicionamento do Conselho em virtude de suas reflexões. Foi ele quem chamou atenção dos colegas para a necessidade do Documento de Intervenção profissional, que definiria de forma efetiva a nossa identidade enquanto interventores da Educação Física... Era uma pessoa muito simples, competente e humilde. Amigo e professor, determinado e perseverante. De poucas palavras e muito conteúdo. (Sérgio Sartori)

Durante a elaboração do Documento de Intervenção, foi possível reafirmar sua disposição para o trabalho, seu conhecimento da problemática da Educação Física e dos diferentes campos de ação do profissional da área. (Iguatemy Lucena)

Seu trabalho no CONFEF foi muito relevante porque ele era inteligente e questionador. Trabalhamos juntos na elaboração do Documento de Intervenção e ele sempre nos levava à reflexão e conseguia resultados, o que é mais importante. Não deixava para ninguém a parte que lhe cabia nas tarefas e complementava as ideias que levávamos para discussão... As vezes, algum conselheiro se exaltavam nas discussões defendendo um ponto de vista e ele simplesmente não se alterava, mas também não desistia de defender suas ideias. (José Maria Barros)

No início deste ano foi discutido o projeto ATLAS do Esporte no Brasil e Bassoli se empenhou para que o CONFEF participasse do projeto, que é o maior no país em termos de reunião de dados referentes à Educação Física. O livro será dedicado à sua memória. (Lamartine da Costa)

Tinha posição de liderança. Fazia interlocuções com os outros Conselheiros sobre temas em discussão na Educação Física colocando os prós e os contras para justificar suas opiniões. Foi um construtor e teve participação intensa em toda as grandes ações do CONFEF. (Carlos Alberto Garcia)

Seu posicionamento era respeitado nas plenárias e ele se fazia entender dentro do seu jeito mineiro. Ia bem devagar e quando víamos já estávamos todos defendendo suas ideias... Bassoli sempre participava do Fórum de Educação Física dos Países do Mercosul – em Foz do Iguaçu, que é a minha região, e valia a pena levá-lo de Juiz de Fora até lá porque ele era uma presença forte, marcante, do tipo que agrega muito. (Almir Ghrun)

Sua marca era de compatibilizar com equilíbrio a leitura da realidade, a análise ideológica e a firmeza nas ações a serem implementadas pelo CONFEF. (Alberto Puga)

Bassoli pensava no Conselho como um órgão que deve orientar o profissional de Educação Física para que ele assuma a responsabilidade social por sua atuação – atendendo, informando e criando uma cultura na sociedade. (João Batista Tojal)

O importante é que ele deixou uma semente plantada para dar muitos frutos. É algo que nós temos que continuar regando. E como um dos Conselheiros que representa Minas, ajudarei a tocar adiante suas propostas. (Walmir Vinhas)

Quando era criticado, mantinha-se sereno. Ao falar, tinha o dom de se fazer ouvir, mas nunca levantava a voz nem mudava de conduta. Era a mesma pessoa do início ao fim. (Jeane Marques)

Politicamente correto, mantinha uma coerência entre o discurso e a prática. E por ser um profissional de muita prática, tinha uma visão futurística de primeira linha. (Renato Medeiros)

Marcou presença pela meticulosidade e precisão de seus trabalhos. A ele eram entregues as tarefas mais metódicas e intelectuais...Nos tornamos amigos muito rápido. Gostávamos de sentar e bater longos papos depois das plenárias. Ambos fomos atletas, mas seguimos rumos diferentes. Ele na carreira acadêmica e eu empresarial. Bassoli tinha uma característica que respeitamos e admiramos muito no meio empresarial: suas colocações eram justificadas de forma lógica. Isso é importante porque no nosso meio um passo errado pode ser fatal...Embora fosse sério e responsável, não era uma pessoa que esquentava demais a cabeça. Dizia que se não tinha jeito, ajeitado estava. Procurava a melhor maneira de resolver as coisas dentro do que era possível, usando as ferramentas que tinha nas mãos. (Gilberto Bertevello)

Sua tranquilidade e cordialidade era algo marcante. Conseguia ser firme sem ser agressivo. Ao olhar para ele tinha-se a impressão de que sua expressão era de quem está raciocinando, refletindo sobre algo... Mesmo com todas as suas ocupações, que não eram poucas, ele ainda conseguia tempo para ajudar os colegas. No início do ano precisei falar com o Senador Hélio Costa. Passei quase um mês tentando agendar um horário com ele. Após um contato do Bassoli, o Senador me recebeu no mesmo dia. (Lúcio Rogério)

Bassoli valorizava o ser humano, sabia fazer amigos e tinha em todos os momentos uma colocação que ajudava no crescimento individual ou coletivo... Fomos colegas de mestrado na UERJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele estudava Marx e fazia um paralelo com o contexto da Educação Física no Brasil. Fortemente embasado, teve dificuldade até em encontrar um orientador que canalizasse suas convicções e as aplicasse na Educação Física. (Juarez Muller)